O
novo Colégio Cardinalício, agora com a presença dos 22 novos membros
inseridos pelo Consistório da manhã deste sábado, 18 de fevereiro, ouviu
o Papa recordar a missão de seus colaboradores mais próximos. O
Consistório teve a participação de várias comitivas oficiais de diversos
países do mundo. No grupo brasileiro, estava o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho,
representando a presidente Dilma Roussef.
Bento XVI, durante o rito solene do
Consistório, lembrou que “Aos novos Cardeais, é confiado o serviço do
amor: amor a Deus, amor à sua Igreja, amor aos irmãos com dedicação
absoluta e incondicional – se for necessário – até ao derramamento do
sangue, como diz a fórmula para a imposição do barrete cardinalício e
como indica a cor vermelha das vestes que trazem. Além disso, é-lhes
pedido que sirvam a Igreja com amor e vigor, com a clareza e a sabedoria
dos mestres, com a energia e a fortaleza dos pastores, com a fidelidade
e a coragem dos mártires. Trata-se de ser servidores eminentes da
Igreja, que encontra em Pedro o fundamento visível da unidade”.
Na parte da tarde, deste sábado, os
novos cardeais tiveram a oportunidade de receber os cumprimentos das
comitivas oficiais, dos familiares e convidados, em dois ambientes do
Vaticano: a Sala Paulo VI e o Palácio Apostólico. Dom João Braz de Aviz,
único brasileiro do grupo, recebeu seus convidados no hall da
Sala Paulo VI. Entre as pessoas que foram saudar dom João estavam o
cardeal Claudio Hummes, ex-prefeito da Congregação para o Clero, dom
Alberto Taveira, arcebispo de Belém (PA) e dom Philip E. R. Dickmans,
bispo da Diocese de Miracema (TO), além de leigos representantes das
diocese de Ponta Grossa (PR) e das arquidioceses de Vitória (ES),
Maringá (PR) e Brasília (DF).
Confira a íntegra da reflexão do Papa durante o Consistório:
«Tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo Ecclesiam meam».
Venerados Irmãos,
Amados irmãos e irmãs!
Com estas palavras do cântico de
entrada, teve início o rito solene e sugestivo do Consistório Ordinário
Público para a criação dos novos Cardeais, que inclui a imposição do
barrete cardinalício, a entrega do anel e a atribuição do título.
Trata-se das palavras com que Jesus constituiu, eficazmente, Pedro como
firme alicerce da Igreja. E o factor qualificativo deste alicerce é a
fé: realmente Simão torna-se Pedro – rocha – por ter professado a sua fé
em Jesus, Messias e Filho de Deus. Quando anuncia Cristo, a Igreja está
ligada a Pedro, e Pedro permanece colocado na Igreja como rocha; mas,
quem edifica a Igreja, é o próprio Cristo, sendo Pedro um elemento
particular da construção. E deve sê-lo por meio da fidelidade à sua
confissão feita junto de Cesareia de Filipe, ou seja, em virtude da
afirmação: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo».
As palavras, que Jesus dirige a Pedro,
põem claramente em destaque o carácter eclesial da celebração de hoje.
De facto, através da atribuição do título duma igreja desta Cidade [de
Roma] ou duma diocese suburbicária, os novos Cardeais ficam, para todos
os efeitos, inseridos na Igreja de Roma guiada pelo Sucessor de Pedro,
para cooperar estreitamente com ele no governo da Igreja universal.
Estes diletos Irmãos, que dentro de momentos começarão a fazer parte do
Colégio Cardinalício, unir-se-ão, por vínculos novos e mais fortes, não
só com o Pontífice Romano mas também com toda a comunidade dos fiéis
espalhada pelo mundo inteiro. Com efeito, no desempenho do seu peculiar
serviço de apoio ao ministério petrino, os neo-purpurados serão chamados
a analisar e avaliar os casos, os problemas e os critérios pastorais
que dizem respeito à missão da Igreja inteira. Nesta delicada tarefa,
servir-lhes-á de exemplo e ajuda o testemunho de fé prestado pelo
Príncipe dos Apóstolos, com a sua vida e morte, pois, por amor de
Cristo, deu-se inteiramente até ao sacrifício extremo.
É com este significado que se deve entender também a imposição do barrete vermelho. Aos novos Cardeais, é confiado o serviço do amor: amor a Deus, amor à sua Igreja, amor aos irmãos com dedicação absoluta e incondicional – se for necessário – até ao derramamento do sangue, como diz a fórmula para a imposição do barrete cardinalício e como indica a cor vermelha das vestes que trazem. Além disso, é-lhes pedido que sirvam a Igreja com amor e vigor, com a clareza e a sabedoria dos mestres, com a energia e a fortaleza dos pastores, com a fidelidade e a coragem dos mártires. Trata-se de ser servidores eminentes da Igreja, que encontra em Pedro o fundamento visível da unidade.
No texto evangélico há pouco
proclamado, Jesus apresenta-Se como servo, oferecendo-Se como modelo a
imitar e a seguir. No cenário de fundo do terceiro anúncio da paixão,
morte e ressurreição do Filho do Homem, sobressai, pelo seu clamoroso
contraste, a cena dos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, ao lado
de Jesus, ainda correm atrás de sonhos de glória. Pediram-Lhe:
«Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à
tua esquerda» (Mc 10, 37). Contundente é a resposta de Jesus, e
inesperada a sua pergunta: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o
cálice que Eu bebo?» (Mc 10, 38). A alusão é claríssima: o
cálice é o da paixão, que Jesus aceita para cumprir a vontade do Pai. O
serviço a Deus e aos irmãos, a doação de si mesmo: esta é a lógica que a
fé autêntica imprime e gera na nossa existência quotidiana, mas que
está em contradição com o estilo mundano do poder e da glória.
Com o seu pedido, Tiago e João mostram
que não compreendem a lógica de vida que Jesus testemunha, aquela
lógica que deve – segundo o Mestre –caracterizar o discípulo no seu
espírito e nas suas acções. E a lógica errada não reside só nos dois
filhos de Zebedeu, mas, segundo o evangelista, contagia também «os
outros dez» apóstolos, que «começaram a indignar-se contra Tiago e João»
(Mc 10, 41). Indignam-se, porque não é fácil entrar na lógica
do Evangelho, deixando a do poder e da glória. São João Crisóstomo
afirma que ainda eram imperfeitos os apóstolos todos: tanto os dois que
procuravam obter precedência sobre os outros dez, como os dez que tinham
inveja dos dois (cf. Comentário a Mateus, 65, 4: PG
58, 622). E São Cirilo de Alexandria, ao comentar passagens paralelas no
Evangelho de Lucas, acrescenta: «Os discípulos caíram na fraqueza
humana e puseram-se a discutir uns com os outros qual deles seria o
chefe, ficando superior aos outros. (…) Isto aconteceu e foi-nos narrado
para nosso proveito. (…) O que sucedeu aos santos Apóstolos pode
revelar-se, para nós, um estímulo à humildade» (Comentário a Lucas, 12, 5, 24: PG
72, 912). Este episódio deu ocasião a Jesus para Se dirigir a todos os
discípulos e «chamá-los a Si», de certo modo para os estreitar a Si, a
fim de formarem como que um corpo único e indivisível com Ele, e indicar
qual é a estrada para se chegar à verdadeira glória, a de Deus: «Sabeis
como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a
sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não
deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se
vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de
todos» (Mc 10, 42-44).
Domínio e serviço, egoísmo e
altruísmo, posse e dom, lucro e gratuidade: estas lógicas, profundamente
contrastantes, defrontam-se em todo o tempo e lugar. Não há dúvida
alguma sobre a estrada escolhida por Jesus: e não Se limita a indicá-la
por palavras aos discípulos de ontem e de hoje, mas vive-a na sua
própria carne. Efetivamente explica: «Também o Filho do Homem não veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua via em resgate por muitos»
(Mc 10, 45). Estas palavras iluminam, com singular
intensidade, o Consistório público de hoje. Ecoam no fundo da alma e
constituem um convite e um apelo, um legado e um encorajamento
especialmente para vós, amados e venerados Irmãos que estais para ser
incluídos no Colégio Cardinalício.
Segundo a tradição bíblica, o Filho do Homem é aquele que recebe de Deus o poder e o domínio (cf. Dn
7, 13-14). Jesus interpreta a sua missão na terra, sobrepondo à figura
do Filho do Homem a imagem do Servo sofredor descrita por Isaías (cf. Is
53, 1-12). Ele recebe o poder e a glória apenas enquanto «servo»; mas é
servo na medida em que assume sobre Si o destino de sofrimento e de
pecado da humanidade inteira. O seu serviço realiza-se na fidelidade
total e na plena responsabilidade pelos homens. Por isso, a livre
aceitação da sua morte violenta torna-se o preço de libertação para
muitos, torna-se o princípio e o fundamento da redenção de cada homem e
de todo o género humano.
Amados Irmãos que estais para ser
inscritos no Colégio Cardinalício! Que a doação total de Si mesmo, feita
por Cristo na cruz, vos sirva de norma, estímulo e força para uma fé
que atua na caridade. Que a vossa missão na Igreja e no mundo se situe
sempre e só «em Cristo» e corresponda à sua lógica e não à do mundo,
sendo iluminada pela fé e animada pela caridade que nos vem da Cruz
gloriosa do Senhor. No anel que daqui a pouco vos entregarei, aparecem
representados São Pedro e São Paulo e, no centro, uma estrela que evoca
Nossa Senhora. Trazendo este anel, sois convidados diariamente a
recordar o testemunho de Cristo que os dois Apóstolos deram até ao seu
martírio aqui em Roma, tornando assim fecunda a Igreja com o seu sangue.
Por sua vez a evocação da Virgem Maria constituirá para vós um convite
incessante a seguir Aquela que permaneceu firme na fé e serva humilde do
Senhor.
Ao concluir esta breve reflexão, quero
dirigir a minha grata e cordial saudação a todos vós aqui presentes,
particularmente às Delegações oficiais de diversos Países e aos
Representantes de numerosas dioceses. No seu serviço, os novos Cardeais
são chamados a permanecer fiéis a Cristo, deixando-se guiar unicamente
pelo seu Evangelho. Amados irmãos e irmãs, rezai para que possa
refletir-se ao vivo neles o Senhor Jesus, o nosso único Pastor e Mestre e
a fonte de toda a sabedoria que indica a estrada a todos. E rezai
também por mim, para que sempre possa oferecer ao Povo de Deus o
testemunho da doutrina segura e reger, com suave firmeza, o timão da
santa Igreja.
por: CNBB
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